sexta-feira, 17 de março de 2017

Também moro nos olhos das paredes


Também moro nos olhos das paredes
de musgo a adormecer as pálpebras,
sonos profundos como nas histórias de encantar,
onde os finais desenham sorrisos felizes.

Os suspiros, meros sopros de primavera,
bebi-os na liberdade das fontes
e na igualdade das sedes.

Mas há olhos nas paredes
que sofrem invernos de gelos,
pedras de ódio no arremesso da raiva
e o musgo, que seria cama de nascimentos,
vai na enxurrada das tempestades.

Também há dias bonitos nos olhos das paredes
e luas a escreverem poemas líricos e idílicos
quando o amor é apenas amor.

Por isso, os olhos das paredes se atalaiam
no impedimento de vagas de cimento.

É preciso deixar abertos os olhos das paredes.
Onde moram olhos. Para lá dos meus.

OF (Odete Ferreira) – 16-11-16
Arte de Tal Peleg 

24 comentários:

  1. Que lindo........ Beijinho e desejo-lhe um bom fim de semana!

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  2. Intenso e muito belo.
    Um abraço e bom fim-de-semana

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  3. Minhas paredes... Nossas paredes... são nossas cúmplices e testemunhas...
    Abraço.

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  4. As paredes e a intimidade
    São visão e sentido da vida.
    Os silêncios e cumplicidade
    São guardados no Altar dessa Ermida.


    Beijo
    SOL


    PS: Têm havido problemas de linkagem. O redireccionamento ia-me remetendo para uma postagem fixa, como sendo a pág inicial.
    A Google não tem ajudado.


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  5. Bonito, sim senhora!
    Kis :=}
    BFSEMANA

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    Respostas
    1. Odete, velha amiga não te conhecia com o teu verdadeiro "eu". Percebes?
      É através de um linque que aqui chego. Pois que eu tbm andei perdida...A gozar a vida não quer dizer que agora não a goze.
      É diz-me que é feito da outra nossa amiga?
      Nunca mais me cruzei com ela nem pelo outro meio que me deste, sabes quem?
      Kis :=}

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  6. De olhos fechados também se vê
    mas para lutar é bom tê-los abertos
    Bjs

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  7. Paredes já não são mais barreiras. Muito bonito, poema elegante e intenso!
    Beijo, querida, uma ótimo fds.

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  8. Odete,

    admirável talento o teu para poderes dizer num simples poema (embora belíssimo) o que milhares de palavras e enormes resmas de livros têm escrito, sem êxito assinalável.

    ou seja, a alienação da sociedade moderna, encharcada de imagens e signos que nos "aprisionam" e a urgência em derrubar os muros (de cimento) da cegueira colectiva - vendo para além de nosso olhos!

    tiro meu chapéu (que não uso rss)

    beijo

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  9. Se o nosso amigo Manuel Veiga ( também com uma admirável poesia) me permite , faço meu o seu comentário.

    Abraço para ti e para ele :)

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  10. O amigo Manuel Veiga pôs de uma for admirável em palavras o que eu penso do poema e eu não seria capaz de me exprimir com tamanha sabedoria.
    Um abraço e bom Domingo.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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  11. Boa tarde, depois de ler o belo poema, não tenho duvidas que, "Também há dias bonitos nos olhos das paredes".
    AG

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  12. Belo poema...Espectacular....
    Cumprimentos

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  13. A tua poética tem estampada o teu gosto pela linguística , querida amiga !
    As palavras e seu subterfúgios são brinquedos no teu imaginário . E desenrolas as conotações num desfile pleno de sensibilidade e oportunidade .
    Agora , tantas paredes , outros tantos olhos e tantas leituras !
    Beijinho 😘

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  14. A imagética deste teu poema vai muito mais além dos olhas nas paredes. O poema derruba as paredes e desafia as palavras a desenharem, mesmo que lentamente, o protesto pelos "que sofrem invernos de gelos, pedras de ódio no arremesso da raiva". Pelas tuas paredes corre o brilho aguado do olhar...
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  15. Amiga, quando eu penso que os poetas já não me podem surpreender mais, fico deslumbrada com esta imensa e inteligente metáfora que compara o verdadeiro e real eu poético, despido de qualquer condicionamento, à observação de olhos nas paredes...
    Olhos que nunca enganam e são o consciente ético... admirável imagética!
    Foi uma ideia genial, que fez este poema único e inesquecível.
    Parabéns, Poeta.
    Beijinhos.
    ~~~~~~

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  16. Fenomenal! Uma palavra que cabe perfeitamente, beijos

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  17. Do mesmo modo que têm ouvidos... têm olhos também, as paredes.
    Que vêem para além do que é visível a olho nu...
    E te inspirarem neste excelente poema.
    Tu tens um enorme dom para "brincar" com as palavras, dominá-las, levá-las para o ponto exacto que desejas.
    O resultado está à vista - um poema diferente, único, que não nega a origem - uma poetisa de grande porte!!!

    Re: Eu também gosto muito de chapéus, e muitas vezes digo para a minha filha que tenho pena que não se use como antigamente, quando eu era criança, em que uma senhora não ia à rua sem chapéu...

    Continuação de boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  18. Minha gratidão pelas palavras de carinho no meu blog e por sua honrosa visita. Encantado com sua pachorra em buscar saber desta terra que tomei por ama-seca e que é maravilhosa a despeito da minha suspeição, por tanto amá-la, ao afirmar isso, mas é uma Ilha singular, tanto do ponto de vista da geografia física quanto humana. Foi colonizada por portugueses, com um acréscimo populacional de mais portugueses açorianos e miscigenada por uma grande colônia grega, depois germânicos e italianos chegaram - mix perfeito para a alegria, misticismo, austeridade, cordialidade de um povo que pouco a pouco vai sendo agregado, por outras gentes a descaracterizar o genuíno vinho, que ainda é bom. À distância, eu ergo a você a taça, num brinde suposto por comungar com a beleza dela comigo no dia do aniversário da Ilha. Saúde, Odete Ferreira / Neste dia de homenagem / À Ilha e à sua imagem / De estrela verdadeira. / Portuguesa ou brasileira / Esta Ilha tem à margem / Por divina molecagem / Ser a décima ou a primeira / Do Arquipélago Açoriano /
    Se distante, é por engano / Da suposta geografia / Que o Criador Soberano / Quis dar um ar mais humano / Ao sul do mundo, e a envia. Laerte. Grande abraço. Parabéns por sua postagem linda. Gosto muito de seus poemas: Se as paredes têm ouvidos / Por que não olhos também? No seu poema, olhos têm / Além de outros sentidos... Minha gratidão! Tudo de bom! Cordialmente. Laerte.

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  19. Odete , seu poema deixou a todos embevecidos .
    Muito obrigada .
    Beijos

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  20. Que esses olhos, vislumbrem sempre novos horizontes...
    Muito belo Odete.
    Beijinho.

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  21. Odete,
    Tens um mundo que fala contigo, que te afaga, mesmo quando esboça descontentamento.
    Gosto sempre, tu sabes.

    Um beijinho :)

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  22. Olá, Odete

    De todas as implicações de que este teu poema está imbuído, preferi vê-lo num âmbito mais intimista, no recesso em que a nossa vida decorre deixando impressas nas paredes partes de nós. As paredes falam, têm olhos, têm ouvidos, observam o correr dos nossos dias, das horas, dos minutos e vão registando os gostos, a harmonia, a tristeza, os amores, tudo o que faz e refaz os nossos passos. E têm histórias para contar. E têm lágrimas para chorar. E é na sua companhia que almejamos viver os momentos últimos.

    Minha querida amiga, adoro a tua escrita!

    Beijinhos

    Olinda

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  23. Eita, amiga, tu és puro talento!...rss

    Um olhar especial o teu, sensibilidade a captar o mundo,
    a beleza, a arte e a vida que pulsa em ti e na própria
    vida (os outros...).

    Adorei a simbologia da "paredes", como espaço delimitado
    do eu e o do outro... A ligação do olhar na comunhão
    que se faz o todo...

    Bravo!!
    Bjos.

    PS: Fiquei um tempo encantador aqui no teu espaço, respirando
    arte!... Grata, viu?...rss

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