domingo, 6 de outubro de 2013

Cidadania de pleno direito

Escrevo antes de conhecer qualquer resultado destas eleições autárquicas, tão atípicas, como dizia uma amiga. Tudo pode acontecer, acrescentava.  Por isso mesmo, a caneta apartidária exige-me este escrito, esta partilha de um sentir ao longo de ações cívicas em que participei, dando a cara por um partido e pelos seus candidatos. Aliás, já o faço há um bom par de anos. Não consigo ficar indiferente. Não posso deixar de exercer deveres pelos quais tantos lutaram. Há que honrar o legado de Homens de Fé, de Homens que não se calaram, de Homens que nos outorgaram algo que é inerente ao ser humano – LIBERDADE.
Na génese destas ações em que me empenho, está um desígnio que vai para lá do momento, da conjuntura: a crença no desenvolvimento pessoal das gentes pouco escolarizadas mas possuidoras de visão. E notei diferenças…Uma atitude mais recetiva, um conhecimento da realidade que vai para lá das pedras do seu espaço, a consciência de que ajudam a escavar um poço sem fundo… Resignação, também, o que mais me dói, o que mais me revolta. Ninguém devia criar este estado de ânimo nas pessoas. Crime, digo eu, parafraseando uma série televisiva que via há alguns anos atrás.
Sabe, menina, desde o tempo de Salazar que me mandam apertar o cinto. E isto nunca mais endireita, dizia-me um senhor. Respondia com um silêncio e um olhar pensativo que só adensava a certeza de que há muito se perdera a noção de decência…
E lá continuo partilhando algum do conhecimento que possuo. Sem demagogia. Sem receio. Apenas porque sou assim e tive o privilégio de festejar ABRIL já com alguma consciência, embora muito pouco conhecedora do que se passava nas grandes urbes.
A democracia não pode continuar a ser apenas invocada! Urge convocar rostos atuantes e possuidores de autenticidade no discurso, no gesto, na atitude. Urge erigir um monumento à essencialidade do Homem e lutar por um mundo onde o sol não aqueça apenas uns quantos…

Odete Ferreira, 28-09-2013


(Apenas hoje consegui tempo para fazer sair o texto do manuscrito para o pc. De resto, já conhecem os resultados eleitorais e não seriam eles que me levariam a escrevinhar. São as gentes, sobretudo as mais solitárias, não por opção, as que calam a minha alma e me impulsionam.) 

5 comentários:

  1. Crime, disse ela e dizemos nós ( ainda vejo, com interesse, alguns episódios desta série).
    Creio que é um dever de cidadania lutarmos e darmos a cara por aquilo em que acreditamos. Todos devem ter voz em momentos tão decisivos para o país. Se nos lembrarmos que já houve tempo em que as mulheres nem sequer votavam, mais facilmente entenderemos o papel que nos cabe.
    Grande abraço, querida amiga. Continua!

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  2. Cidadania de pleno direito, sim ...

    Maravilhoso texto e esta tua bela foto é muito expressiva e contagiante

    para ir em frente sempre...

    Beijinho, amiga!

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  3. Belo texto...Espectacular....
    “O que são as pessoas de carne e osso? Para os mais notórios economistas, números. Para os mais poderosos banqueiros, devedores. Para os mais influentes tecnocratas, incómodos. E para os mais xistosos políticos, votos.”
    ~Eduardo Galeano

    Cumprimentos

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  4. Que lindona que estás! Do texto só posso dizer o que senti...escreveu com os dedos sensíveis de uma cidadã.
    Beijuuss

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  5. Amig@s, Teresa, Suzete, Fernando e Regina (e outr@s que tenham lido ou que possam vir a ler): exerci o direito de cidadania ativamente, sem MEDO. E desejo que qualquer ser humano o possa fazer (ou vir a fazer) de cara levantada e em plena liberdade.

    Na passada sexta, dia 18, os órgãos eleitos foram empossados em sessão pública da Assembleia Municipal.
    Tenho assento na Assembleia Municipal e continuarei a ser interventiva...

    Obg, pela vossa presença. :)

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