quinta-feira, 2 de março de 2017

Do pensamento


Não queria amar-te tanto,
nem ter-te no miolo do meu pão,
em momentos de arrelia,
em circunstâncias pegajosas,
vermes a esventrar a terra virginal…
Amofinas-me, então. E vences.

Acodem-me, lestas, as palavras
e sou capaz de levedar o tempo,
de acomodar o espaço num único quarto.
E todos os instantes que sou
se exultam em ferventes escorrências.

Então, sim, amo-te em demasia
e afadigo-me pelos esconsos corredores da casa.
Transparente e volátil, apareço e desapareço
por entre portas suficientemente abertas,
onde me pulso, me penso e me palmilho.
Me defino e indefino. Subtilmente.

Diz-se dos contrários, o sentimento.
Mas é do complexo, o pensamento.
Árvore perene. Em si mesmo.

OF (Odete Ferreira) – 22-02-17
Obra de Anna Dittmann

20 comentários:

  1. Odete ,
    Maravilha o que escreve !
    Beijos , amiga e obrigada pela partilha tão generosa .

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  2. No poema você esboça um amor que se doa e se recolhe... complexo como todo ato de amar... Belo!
    Abraço.

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  3. Sublime definição das agruras de um amor intenso,
    onde brilham as rosas e magoam os espinhos...
    Um poema realista e de grande humanidade.
    A vitória é habitualmente do amor.
    Gostei muito, Odete.
    Beijo.
    ~~

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  4. absolutamente "agarrado" pelo teu poema.
    e deixo-me ir nesse caudal, flutuando na sublime transfiguração das palavras e seu(s) sentido(s) e quando julgo dominá-los (as palavras e os sentidos) eis que nova avalanche me atira para o fragor da corrente.

    nada a fazer! o percurso da "liberdade livre" do teu belíssimo poema leva-me na onda, sem apelo nem agravo, recusando(-me) qualquer margem que não seja a sua glória de ser Poesia.

    um momento raro e belo. adorei, Odete

    Beijo, minha amiga

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  5. Minha querida amiga,

    Neste teu poema obra de arte, vou me atrever a percorrer os sentires
    do caminho da tua construção excelente e original.
    Fiquei atenta ao título: "Do Pensamento" e junto com a imagem
    numa soma de simbologia a ligar ao poema...
    Senti e entendi o poema como a estrada do pensamento amoroso-paixão,
    carregado de uma intensidade de sentires, desejos e lutas de ideias (
    questionamentos...), forças opostas como uma dança "tango"...
    Nesta estrada do pensamento se processa o autoconhecimento num
    turbilhão interior e a volatilidade invisível do pensar, a definir
    e indefinir o eu numa complexidade do todo Ser!...

    Desculpa, amiga, a querer decifrar o teu imenso poema,
    porém, tão desafiante e não resisti...rss
    Nesta estrada da nossa amizade "virtual" (mas genuína...)
    e admiração, sei que tu não me interpretará invasiva.
    Tu conheces o quanto eu sou fascinada pela excelente Poesia.

    Adorei!!
    Bjos.

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  6. Um poema de amor. Amor sublime e complexo, forte e frágil, contrário a si mesmo.
    Um abraço

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  7. Há sentimentos que por vezes nos parecem complexos. Mas, tal como o amor, o pensamento é perene (enquanto dura...).
    Excelente poema, gostei muito.
    Bom fim de semana, amiga Odete.
    Beijo.

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  8. Uma poesia intensa e bela.
    Molda cada sentir com maestria.
    Bjinho😘

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  9. Boa tarde, o belo poema, revela enormes sentimentos bons que moram permanentemente no seu coração.
    Tenho dificuldades a chegar aqui à sua pagina, após varias tentativas consegui, talvez o problema seja meu.
    AG

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  10. Lindo e denso poema, do começo ao fim nos apresenta momentos de muita beleza.
    Um beijo, querida amiga, sempre grata pela tua presença amiga.

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  11. Um poema intenso, como intenso é o amor que descreve. Será a poesia uma narrativa de íntimas ficções?
    Gostei imenso, Odete.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  12. Belo poema...Espectacular....
    Cumprimentos

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  13. Belissimo, gostei especialmente de "o miolo do meu pão".

    Minha amiga, terno abraço neste nosso Dia, que te desejo muito feliz!

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  14. Como diz a Elvira e estou de acordo "amor sublime e complexo, forte e frágil, contrário a si mesmo", um belo poema.
    Um abraço e bom fim-de-semana.

    Andarilhar
    Dedais de Francisco e Idalisa
    Livros-Autografados

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  15. "Amar-te tanto e ver-te no meu pão"
    É um sinal divino do amor
    Representado em todo o esplendor
    Da alma e do Pão Nosso. Por que não?

    Amar assim é o auge da paixão
    Da alma e corpo e de real valor
    A iluminar o céu interior
    Do ser não alheado à condição

    De ser humano ser com o destino
    De amar e procriar por graça e tino
    Do próprio instinto do animal humano

    Feito de amor, ao amor eu me inclino
    Como a alegria astral e ao céu a pino
    Eu ergo o olhar, agradeço e me ufano.

    Grande abraço. Laerte.

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  16. "nem ter-te no miolo do meu pão"! Só nesta imagem há um poema com sal.
    Com lágrimas (sal e água) se amassa e leveda o grande amor.
    Belíssimo, Odete.

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  17. Vejo te lesta como o teu desenrolar poético . Em ti, tudo parece fácil mas as palavras suspendem - se na mímica das tuas metamorfoses . E nasce a ótima poesia ! Maravilha !
    Abraço Odete !

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  18. Querida Odete

    A tua escrita tem um cunho inconfundível.Nela aparecem palavras e expressões correntes que, inseridos num ritmo todo ele intelectualidade, tomam vida e se agigantam.

    Amor, paixão, entrega. Um poema onde profundos e desencontrados sentimentos marcam encontro.

    Beijinhos.

    Olinda

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